quarta-feira, 10 de abril de 2013

RECONHECENDO O TEMPO DO FIM – PARTE 26




A PERSEGUIÇÃO AOS CRISTÃOS NO EGITO JÁ COMEÇOU


 Egito, coptas, conflito, confrontos, islamismo


Nos arredores do Cairo ocorreram choques sangrentos entre muçulmanos e cristãos coptas, em consequência dos quais morreram cinco pessoas. Na opinião dos especialistas pode se tratar do primeiro ato de uma guerra religiosa de grande envergadura.
A atmosfera no país, que sofre as conseqüências da Primavera Árabe, está tão tensa que bastam fósforos para que tudo novamente se incendeie. Esta atmosfera tensa surgiu em virtude da posição irreconciliável do movimento Irmandade Muçulmana.
Aliás, as perseguições aos coptas egípcios começaram muito antes da Primavera Árabe, na época de Sadat. Nos anos 90 elas deixaram de ser encaradas como algo nunca visto. Por isso a ligação das perseguições com a Primavera Árabe não é totalmente correta. A opinião do colaborador científico sênior do Centro de Pesquisas árabes do Instituto de Estudos Orientais da Academia de Ciência da Rússia, Boris Dolgov:
Eu não considero que a explosão de violência contra os cristãos foi programada pela Primavera Árabe. Eu lembro que a Primavera Árabe começou com lemas de combate a regimes ditatoriais corruptos, por uma organização estatal verdadeiramente democrática. No inicio da Primavera Árabe não havia quaisquer lemas religiosos. As forças islâmicas aderiram posteriormente. As forças que provocam os choques são correntes islâmicas radicais. Isto não é dirigido pelas autoridades, representadas por islamitas moderados. O que ocorre no Oriente Médio não pode ser chamado de guerra religiosa”.
As autoridades oficiais egípcias negam categoricamente sua parcialidade religiosa. É possível que elas realmente não queiram a escalada da tensão entre religiões. Mas a lógica da história leva-as justamente para esse caminho. A propósito, o especialista do Instituto Russo de Pesquisas estratégicas, Aidar Kurtov supõe que por enquanto não há motivo especial para pânico.
“Eu penso que os revolucionários árabes não lutam contra o cristianismo. Mas este é um efeito colateral. Ele está relacionado com o fato de que no Egito os “Irmãos muçulmanos” não podem cumprir as promessas que lhes permitiram estar no topo do Olimpo político. Promessas do plano sócio-econômico antes de mais nada. Quando a incapacidade de reforçar as palavras com ações torna-se evidente para as amplas massas, começam então as buscas do inimigo interno. E para este papel servem bem pessoas que professam outras religiões. Isto explica bem a causa do que acontece hoje no Egito”.
Em outras palavras, o que ocorre no Egito é determinado em maior grau pela política do que pela religião. Mas qualquer política em certa etapa recorre a símbolos sagrados. Sobretudo se em sua base está a agressão. A Irmandade Muçulmana luta pelo poder. Esta guerra cedo ou tarde deverá ser declarada santa. Caso contrário eles não se manterão no “cume da montanha”.
Algo semelhante ocorre praticamente em todos os países por onde passou a Primavera Árabe. E neste sentido pode-se admitir que pelo menos uma das correias de transmissão de todos os acontecimentos foi a religião. Aidar Kurtov considera:
“Rigorosamente falando, os acontecimentos no Egito, Líbia, Tunísia, Síria, Kuwait e Iêmen são muito diferentes uns dos outros. E em uma série de casos há sinais de que se trata de conflito, que lembra guerras religiosas. Mas isto não se refere ao Egito, Tunísia e Líbia. Mas na Síria realmente os choques têm um fundo claramente expresso. Os sunitas tentam derrubar os políticos ligados aos alauitas, próximos ao ramo xiita do islã. Isto se manifesta também na consolidação das forças da oposição e no fornecimento de dinheiro e armas à oposição, de parte dos regimes conservadores sunitas do Golfo Pérsico. Mas não vale a pena generalizar. No total não se pode falar de guerras religiosas no Oriente Médio.”
É possível que o problema consista ainda no fato de que a opinião pública do Ocidente considera anacronismo o termo “guerra religiosa”. Em nossa época é hábito considerar que na guerra não há lugar para o fator religioso. Entretanto apenas uma parte pensa assim. A outra, sem qualquer constrangimento fala de jihad como reação natural aos novos “cruzados”, que se levantam contra os “filhos do profeta”. Parece que os problemas dos coptas no Egito são conseqüência do conflito secular de dois paradigmas filosóficos, que em tempos de instabilidade geral vêm à superfície.


Fonte: Voz da Rússia


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