sexta-feira, 14 de junho de 2013

O NOVO PAPA E A HEGEMONIA JESUÍTA



O Logotipo da Companhia, com as letras IHS, 'Iesus Hominum Salvator', ou 'Jesus Homem Salvador'


Introdução

Decididamente, vivemos em tempos excepcionais. A eleição de Jorge Maria Bergoglio ao pontificado marca a abertura de uma nova era no Vaticano. Aqueles que vêm na eleição do primeiro Sul-Americano ao cargo máximo da Igreja Católica um momento histórico no percurso da Igreja Católica não estão enganados. Mas o que faz com que o novo Papa seja excepcional não é o facto de ser Argentino, mas sim o facto de este ser um membro destacado da infame Companhia de Jesus, protagonistas centrais da inquisição, a força intelectual por detrás dos misteriosos ‘Illuminati’, e indiscutivelmente, a vanguarda intelectual do Vaticano nos últimos séculos.

O Logotipo da Companhia, com as letras IHS, ‘Iesus Hominum Salvator’, ou ‘Jesus Homem Salvador’.


Breve História

 
Ao largo dos séculos, o Vaticano e a Companhia de Jesus têm tido relações ambíguas, por vezes amigáveis, outras vezes completamente hostis e violentas. Fundada em 1540 por Ignacio Loyola, a Companhia estabeleceu a sua fama e poder por causa do seu trabalho missionário, no qual se destacou como a ordem com maior capacidade de infiltrar e converter as populações indígenas do mundo inteiro, da América do Sul, até o continente Africano e até no Japão.
Em 1773, depois de acusações continuas de subversão política e exploração económica, a sociedade de Jesus foi expulsa da maioria dos países da Europa pela ordem do Papa Clemente XIV, com a exceção da Prússia e da Rússia. A fama da Companhia como mestres da conspiração finalmente teve um custo político elevado. A ponta de lança da repressão da Companhia de Jesus na Europa foi o Marquês de Pombal, que expulsou a Companhia de Jesus de Portugal em 1758.
A perseguição dos Jesuítas obrigou a Companhia a operar cada vez mais na clandestinidade durante as décadas seguintes. Este período viria representar um processo de aprendizagem muito valioso, e iria dotar os Jesuítas de capacidades de infiltração, subversão assim como um profundo ódio pelo Vaticano de que não dispunham previamente.

Clandestinidade e Infiltração

 
No dia 1 de Maio de 1776, Adam Weishaupt, um aristocrata Alemão educado por Jesuítas, funda uma ordem inicialmente apelidada de ‘Perfectibilistas’, depois renomeada ‘Iluminados da Baviera’, coloquialmente chamados de Illuminati. Weishaupt é um dos primeiros exemplos de coadjutores Jesuítas que vieram a ter uma grande influência na vida política da Europa. Os Illuminati adoptaram uma estrutura hierárquica em pirâmide baseada na obediência total dos subordinados aos seus líderes, disposição organizacional directamente inspirada pela estrutura da Companhia de Jesus. À imagem da Companhia, os Illuminati foram banidos pelo governo da Baviera em 1785 com o apoio do Vaticano. Porém os seus membros conseguiram infiltrar círculos de aristocratas revolucionários através da Europa, e o próprio Presidente dos Estados Unidos, George Washington, em 1798, afirmou estar convicto que os princípios dos Illuminati, que menciona em paralelo com o Jacobinismo, infiltraram os Estados Unidos. Ele pronunciou-se inequivocamente sobre o assunto da seguinte forma: “Não tinha intenção de duvidar que, as Doutrinas dos Illuminati, e os princípios do Jacobinismo se tinham espalhado nos Estados Unidos da América. Pelo contrário, ninguém está mais verdadeiramente convicto desse facto do que eu”.
Adam Weishaput tinha todas as características de um coadjutor Jesuíta
O fervor revolucionário na Europa instigado em parte pela influência das doutrinas dos Illuminati, assim como o sentimento de traição pelo clero que resultaram da supressão da Companhia pelo Vaticano, tiveram uma marca visível nas ideologias que resultaram na Revolução Francesa. Nomeadamente, esta foi marcada pelo pensamento secular e pela desconfiança pelo clero do Vaticano. Este período revolucionário culminou na emergência de Napoleão como Imperador da França. Napoleão criticou fortemente a Companhia, dizendo inclusivamente que esta se trata de “uma organização militar, não uma ordem religiosa. O chefe é o chefe de um exército, não somente um frade monástico. E o objectivo desta organização é poder- poder no seu estado mais despótico- poder absoluto, poder universal, poder pela vontade de um só homem… O Jesuitismo é  o mais absoluto despotismo… e ao mesmo tempo o maior e mais enorme dos abusos”.

Reinstituição


Porém seria o próprio Napoleão a desempenhar um papel instrumental na reconstrução da velha ordem política na Europa em geral, e na reinstituição da Companhia em particular. Foi somente depois das guerras Napoleónicas que o Papa Pio VII, depois de vários anos de exilo, decidiu reinstaurar a Companhia em 1814. Depois da sua reinstituição, a Companhia teve o seu maior período de crescimento na história, e retomou a posição de vanguarda pedagógica e intelectual do Vaticano. Mais recentemente, a Companhia construiu o legado doutrinal que levou à reforma do Vaticano através do Conselho Vaticano II, que marcou o inicio de uma maior abertura teológica pela parte de Igreja. Os Jesuítas são igualmente a inspiração por detrás de Teologia da Libertação na América Latina.
A eleição de Bergoglio representa uma grande vitória para a Companhia, cujas relações com o Vaticano eram, até aqui, muito tensas. O ultimo Papa que fez frente à Companhia foi o Papa João Paulo I, que ocupou o pontificado durante somente 33 dias, tendo sido envenenado. A ascensão do primeiro Jesuíta ao lugar de Papa representa uma vitória inédita para a Companhia sobre o Vaticano.
A Vanguarda Intelectual do Vaticano
A Companhia de Jesus é vista como a vanguarda intelectual do Vaticano, e com razão. Foram eles que conseguiram através da sua maior flexibilidade intelectual e pragmatismo levar o Catolicismo mais longe do que qualquer outra força evangelizadora no passado da Igreja. Porém a Companhia tem um passado de conspiração, assassínio, infiltração e perseguição religiosa. A inteligência superior dos Jesuítas faz com que sejam mestres da intriga e da infiltração. A importância da Companhia durante a Inquisição trai a sua verdadeira natureza. E o novo Papa já deu um ar da graça maquiavélica dos Jesuítas- a escolha do nome Francisco pela parte de Bergoglio é estrategicamente magistral, tendo escolhido invocar o fundador de uns dos grandes rivais da Companhia de Jesus, a Ordem Franciscana, Francisco de Assis no seu nome como Papa. Esta escolha ilustra a abordagem Jesuíta para com os seus inimigos e rivais- preferem co-optar, infiltrar e lisonjear os seus detractores em vez de os atacar diretamente, a isolarem-se ou a insultarem publicamente. Não são, por causa disso, menos perigosos, muito pelo contrário.
A inteligência superior dos membros da Companhia de Jesus não deveria ser razão para os progressistas acreditarem que a eleição de um Jesuíta para o pontificado represente um paço na direcção da reforma positiva. Pelo contrário, a eleição de um Jesuíta só aprofunda a tendência preocupante que se tem vindo a desenvolver desde a sua reinstituição em 1814. A Companhia caminha rapidamente para a hegemonia política, sendo as suas áreas de maior influência as instituições de educação, a finança e as instituições supranacionais. A Casa das Aranhas já publicou um artigo que aborda a influência da Companhia no Banco Central Europeu, intitulado ‘A Tomada de Poder do BCE e a Geopolítica de Dívida’. Van Rompuy, Mario Draghi, Mario Monti, Paulo Portas, entre muitas outras figuras importantes da política Europeia foram educados por Jesuítas e agem claramente como coadjutores. Historicamente, a Companhia recruta coadjutores, ou seja, indivíduos que instrumentalizam e ajudam a ascender politicamente simultaneamente, de entre os estudantes que forma através das suas centenas de escolas e universidades espalhadas pelo mundo. Von Rompuy declarou com orgulho sobre si próprio e sobre os arquitetos da Europa Federal: ‘Somos Todos Jesuítas‘. A Federalização iminente da Europa, que utiliza a chantagem, o subterfúgio, a dissimulação e os avanços incrementais em oposição aos avanços abruptos tem o odor inconfundível do Jesuitismo. Sobretudo, é através da instrumentalização da crise da dívida pública que a Europa Federal está a emergir, e o Banco Central Europeu, liderado pelo coadjutor Jesuíta Mario Draghi, está cada vez mais a destacar-se como a instituição com maior margem de manobra para resolver a crise e sair dela fortalecida ao mesmo tempo, assim como sendo uma das instituições que mais tem lucrado com a crise.
Uma outra questão será a que ponto é que o novo Papa poderá ser visto verdadeiramente como o líder do Vaticano. Afinal de contas, os Jesuítas devem obediência absoluta e incondicional aos seus superiores, sendo que Bergoglio, como ex-provincial Jesuíta, deve ‘Obedecer como um Cadaver’ ao seu superior, o General Superior dos Jesuítas, presentemente, o Adolfo Nicolas. A questão será a que ponto é que a acumulação de cargos (mesmo que não oficialmente, visto que Bergoglio já não é provincial desde 1979) não representa um perigo para a separação entre as duas entidades, a independência do Vaticano perante a Companhia de Jesus assim como a capacidade do próprio Papa de agir de forma independente.
Outro facto curioso é que a liderança do Vaticano replicou recentemente o mesmo padrão historicamente anormal da liderança da Companhia de Jesus. Normalmente, o General Superior dos Jesuítas ocupa as suas funções até à morte. Porém recentemente aconteceu um evento raro, o General Superior dos Jesuítas, Hans Kovenbach, demitiu-se. O mesmo aconteceu com Ratzinger, que, contra todas as tradições e costumes, se demitiu do pontificado. Temos portanto, pela primeira vez na História, dois Papas Brancos e dois Papas Negros vivos ao mesmo tempo. Decididamente, vivemos em tempos excepcionais.

Fonte: http://casadasaranhas.wordpress.com/2013/03/13/o-novo-papa-e-a-hegemonia-jesuita/http://julearauju.blogspot.com.br/2013/03/o-novo-papa-e-hegemonia-jesuita.html