terça-feira, 21 de maio de 2013

A FÉ BAHÁ'Í: LIGANDO A POLÍTICA E A RELIGIÃO NA BUSCA PELA UNIFICAÇÃO GLOBAL




Autor: Carl Teichrib, Forcing Change, Edição 3, Volume 1.

Existe uma "religião independente" específica que está literalmente procurando criar uma nova civilização mundial, tanto espiritual quanto politicamente. Pode-se até dizer que criar o governo mundial é sua incumbência espiritual. Para o observador casual, esta audaciosa afirmação pode parecer absurda. Afinal, essa religião em particular não é grande em termos numéricos.
Ela também não se esforça para se apresentar para o conhecimento do público, especialmente quando a comparamos com a influência que o Catolicismo Romano exerce na política internacional, com a enorme atenção que o Islã recebe na imprensa mundial, ou com o papel observado do cristianismo evangélico nas questões internas nos EUA. Na verdade, para todos os propósitos, essa religião permanece em grande parte desconhecida da população em geral.
Todavia, por mais desconhecida que essa religião possa ser para o cidadão mediano, seu envolvimento nos assuntos da governança global é inegável, com um histórico que pode ser rastreado até o nascimento da Organização das Nações Unidas. Mesmo assim, os comentaristas políticos e pesquisadores rotineiramente negligenciam essa organização religiosa. Na verdade, se não fosse pela minha participação em um determinado evento da ONU, eu também ignoraria completamente esse ator internacional.
No verão do ano 2000, tive a oportunidade de participar do Fórum do Milênio da ONU. Foi durante aquele evento que reconheci a importância dessa entidade política e espiritual e a única razão por que observei foi devido à sua atividade visível durante a conferência.
A princípio, achei bastante estranho que um grupo religioso relativamente pequeno estivesse tão envolvido em um evento daquela importância. Eu podia entender que os Fransciscanos Internacionais, uma organização ligada à Igreja Católica, ocupasse algumas posições-chave, incluindo ter um de seus membros no cargo de secretário-executivo. Afinal, independente que você possa pensar sobre o catolicismo romano, não se pode negar a influência que essa poderosa instituição exerce nas questões internacionais. Mas, e a Fé Bahá'í?

Comecei a compreender o significado da religião Bahá'í como uma líder no avanço global quando Techeste Ahderom, o principal representante da Comunidade Internacional Bahá'í junto à ONU, fez seu discurso de abertura como co-presidente do Fórum do Milênio. É verdade que no passado eu já tinha visto os bahá'ís em eventos dos Federalistas Mundiais e em vários encontros interfé, mas nessas ocasiões, os representantes da Fé Bahá'í eram apenas parte do barulho no segundo plano — como tantos outros participantes. Mas, com Ahderom na chefia do Fórum do Milênio da ONU, e com o suporte administrativo direto do Comitê Executivo do Fórum, fui forçado a fazer uma simples, porém importante pergunta: por que os bahá'ís?
O Contexto Global Bahá’í
Em comparação com as outras religiões, a Fé Bahá’í é relativamente nova, emanando dos ensinos de seu fundador, Bahá’u’lláh, que viveu de 1817 a 1892. Com sua origem no Irã, a matriz da Fé Bahá’í era principalmente islâmica [1] e a maior parte de seus primeiros apoiadores veio de comunidades muçulmanas, com uma pequena mistura e envolvimento de cristãos, judeus e zoroastristas.
Como as fés monoteístas, os bahá'ís acreditam que "Deus é um". Entretanto, a fé Bahá'í afirma que Deus "manifesta Sua vontade para a humanidade" por meio de uma série de mensageiros. Assim, "os bahá'ís acreditam que Abraão, Moisés, Zoroastro, Buda, Krishna, Jesus e Maomé são todos mensageiros igualmente autênticos de um Deus." [2]. Além disso, cada uma dessas figuras religiosas e suas várias mensagens são vistas como caminhos legítimos para a salvação e são parte de um plano maior para o progresso da civilização.
Essa ideia de impelir a sociedade é uma parte integral da fé Bahá'í. De acordo com a página oficial na Internet, o tema central da fé Bahá'í é que "o gênero humano é um só e chegou o tempo para sua unificação em uma sociedade global" [3]. Essa mensagem de unificação é claramente declarada em todos os escritos bahá'ís.
Um desses textos, Bahá’í Teachings For The New World Order (Ensinos Bahá'ís para a Nova Ordem Mundial), publicado pela Assembleia Espiritual Bahá´í dos EUA, lista alguns de seus princípios fundamentais:
·         "A unidade da humanidade".
·         "Paz universal mantida por um governo mundial."
·         "A fundação comum de todas as religiões."
·         "Educação universal compulsória."
·         "Uma solução espiritual para os problemas econômicos."
John Ferraby, autor da referência bahá’í All Things Made New (Todas as Coisas se Fazem Novas), se arrisca a fazer algumas afirmações igualmente significativas:
"A unidade que existe entre os bahá'ís se assemelha, mas é mais forte do que as dos cristãos e muçulmanos primitivos, pois os elementos unidos são mais diversos. Vivemos em uma época sem igual, quando pela primeira vez na história, a humanidade pode ser reconhecida como uma só. Segundo Bahá'u'lláh, o Plano Divino da Criação requer que o processo de unificação culmine neste estágio da história humana; tudo o que passou antes serviu para nos trazer para a época presente, em que a unidade da humanidade deve ser alcançada na unidade mundial... Entramos em uma nova era, em que a unificação da humanidade pode ser adequadamente organizada somente por um Estado mundial... Deus liberou, por meio de Bahá'u'lláh as forças necessárias para unir a humanidade... Portanto, o espírito de unidade liberado por Bahá'u'lláh é mais intenso do que qualquer liberação feita em épocas passadas. Os primeiros frutos são visíveis na Comunidade Bahá'í hoje, amanhã seu poder espiritual dominará a humanidade." [4].
Isto explica por que os representantes bahá'ís estão há várias décadas tão envolvidos dentro da comunidade global: a criação de um governo global é uma incumbência espiritual que eles têm.
Obviamente, a Comunidade Bahá'í participa de iniciativas para a mudança global muito antes de eu ter testemunhado isto durante o Fórum do Milênio da ONU. Considere as seguintes informações resumidas, fornecidas pela CIB:
"A Comunidade Internacional Bahá'í tem um longo histórico de envolvimento com as organizações internacionais. Na sede da Liga das Nações, em Genebra, um Escritório Internacional da Fé Bahá'í, criado em 1926, serviu como base para os bahá'ís participarem nas atividades da Liga. Em 1945, quando a Carta de Constituição da ONU foi assinada em San Francisco, os representantes bahá'ís estavam presentes. Em 1948, a Comunidade Internacional Bahá'í foi registrada junto à ONU como uma organização não governamental (ONG) internacional e em 1970 recebeu status consultivo (chamado agora de status consultivo 'especial') junto ao Conselho Econômico e Social da ONU (ECOSOC). O status consultivo junto ao UNICEF (Fundo das Nações Unidas para as Crianças) foi concedido em 1976, e o status consultivo junto ao Fundo de Desenvolvimento para as Mulheres (UNIFEM) foi concedido em 1989. Ao longo dos anos, a Comunidade trabalhou de perto com o Programa de Meio Ambiente da ONU (UNEP), com o Escritório do Alto Comissariado para os Direitos Humanos, com a UNESCO (Organização Cultural, Científica e Educacional da ONU) e com o Programa de Desenvolvimento da ONU (UNDP)." [5].
Durante os últimos anos, a CIB participou do Encontro de Cúpula Mundial Sobre Desenvolvimento Sustentável, do Encontro de Cúpula Pela Paz Mundial no Milênio, da Conferência Mundial da ONU Contra o Racismo, da Sessão Especial da ONU Sobre as Crianças, do Encontro de Cúpula Mundial Sobre a Sociedade de Informação, e de muitos outros eventos internacionais. Além disso, em Turim, na Itália, na sede da Organização Mundial do Trabalho, um relacionamento especial foi desenvolvido entre a OIT e o Foro Empresarial dos Bahá'ís Europeus (EBBF). O propósito: "aplicar princípios espirituais para solucionar os problemas econômicos".
Esse aspecto europeu é importante, dando não somente uma estrutura global, mas também regional para a transformação social. Depois disso, a Comissão Europeia fez parceria com o EBBF e, em 2002, Giuseppe Robiati, um membro do EBBF, foi agraciado com o título de professor titular da cadeira de Nova Ordem Mundial, na Universidade de Bari, na Itália. Além disso, o Parlamento Europeu "sediou uma exposição especial para destacar a contribuição feita pelas comunidades bahá'ís europeias na promoção da harmonia social." [6].
Entretanto, é no Oriente Médio e, particularmente em Israel, que a religião Bahá'í está especialmente focada.
A Sede Mundial
No Monte Carmelo, em Haifa, o local onde o profeta Elias teve seu confronto com os profetas de Baal (1 Reis 18), uma sucessão de jardins nivelados, cada um com 19 degraus, forma um terreno de aproximadamente mil metros na lateral norte do monte. No centro desse cenário deslumbrante situa-se o Santuário do Báb — a estrutura de um mausoléu com domo dourado que contém os restos mortais do Báb, o precursor espiritual de Bahá'u'lláh.

Aparentemente, um ano antes de morrer, Bahá'u'lláh viajou até o Monte Carmelo, onde "designou o local para ser a sede mundial da sua fé". [7]. Assim, desde meados dos anos 1950s, Haifa tornou-se o local central para a obra de unificação global dos bahá'ís.
O Monte Carmelo abriga atualmente diversas enormes estruturas administrativas bahá'ís, incluindo o edifício dos Arquivos Internacionais e o Centro Internacional de Ensino. Também no local está o Centro para o Estudo dos Textos, uma instalação para a guarda e conservação dos documentos sagrados e que atua como uma instituição de estudo para eruditos e acadêmicos. Todos esses estabelecimentos funcionam em conjunto com a Casa Universal de Justiça, a "instituição suprema" e o corpo governante da comunidade bahá'í. Entretanto, a Casa de Justiça e as outras instituições de suporte estão preocupadas com muito mais do que apenas a Fé Bahá'í.
Em um artigo publicado em One Country, a publicação oficial da Comunidade Internacional Bahá'í, Douglas Samimi-Moore, diretor do Escritório de Informações Públicas da organização, explicou o significado mais profundo que está por trás do complexo no Monte Carmelo:
"Nossas escrituras dizem que a construção de instalações para abrigar essas instituições coincidirá com vários outros processos no mundo. Um desses processos é o amadurecimento das instituições locais e nacionais da fé Bahá'í. Outro é o estabelecimento de processos que levarão à paz política para a humanidade..." [8].
Enfatizando essa unificação global da política e da religião, Samimi-Moore declarou novamente esse tema central acrescentando que "os bahá'is construíram essas estruturas por uma motivação espiritual... Eles acreditam que essas novas estruturas contribuirão para a unificação do planeta." [9].
O objetivo jurado da fé Bahá'í, a incumbência espiritual de criar o governo mundial, demonstra amplamente a razão por que essa religião pouco conhecida está tão interessada em se entrincheirar dentro da comunidade internacional. As implicações são extraordinárias. Pense no seguinte: uma sede internacional em um complexo deslumbrante de edifícios — incluindo uma Casa Internacional de Justiça — localizada no Monte Carmelo, tudo com vínculos especiais na Organização das Nações Unidas, e uma agenda interfé firmemente estabelecida centrada na unificação global. Entretanto, há uma parte final neste quadro.
John Ferraby, que serviu como secretário da Assembleia Espiritual Bahá'í dos EUA fornece uma forte razão para o intenso desejo de sua fé ver o governo mundial e o sistema religioso mundial frutificarem. Isto é imperativo para a visão bahá'í da ordem internacional: "... antes do aparecimento do próximo manifestante de Deus, sua Nova Ordem Mundial será formada." [10].
Esta é a versão bahá'í para o ditado: "Construa o ninho e o filhote virá."


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